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Os 4 (consumidores) do pacaembu

 

O Brasil, mostram os dados, virou um país de classe média. A pirâmide social, aquela que a base é a parte mais baixa, virou um losango com o meio dando sustentação a tudo. Chegam a essa conclusão por conta da faixa de renda da maior parte da população brasileira. Tem mais emprego, ganham mais e, assim, consomem mais. Justo.

Como tudo na grande roda da história existem os bônus disso tudo. Mas também existem os ônus.

Acontece que hoje o que pauta a nossa classe média são os direitos do consumidor. Até aí, ótimo. Quem não tinha do que reclamar com operadoras de celulares, simplesmente porque não tinha celular, agora tem. E reclama quando o serviço é ruim (talvez agora parem de santificar as privatizações). Nada mais justo. O pobre agora come bife e reclama no açougue quando o bife não está bom. Um baita avanço.

E onde está o tal do ônus, você me pergunta. E eu te digo: nada importa mais hoje do que o direito do consumidor! O direito a moradia não existe. “Ué, esse terreno é invadido mesmo e é meu. Chamo a polícia, meto a borracha em vocês e depois faço o que quiser com o terreno. Inclusive NADA, ele é meu. Se mandem daqui…” O direito humano, então… seria revogado se formos dar ouvido a maioria da população. Mas o direito do consumidor… ah, não… esse aí é inalienável…

Quatro torcedores ontem entraram no Pacaembu para assistir o jogo do Corinthians contra o Millionarios da Colômbia. O estádio, como todos já sabem, não poderia receber público por conta do desastre de Oruro, onde o disparo de um sinalizador marítimo MATOU Kevin Espada, um garoto de 14 anos que só queria se divertir e ver o campeão mundial em campo.

O direito do consumidor levou juízes a darem razão aos advogados dessas pessoas (alguns nem precisaram ser representados, acredito, porque eram homens das leis). “Paguei o ingresso e tenho meus direitos” bradavam, provavelmente com Iphones nas mãos e o aplicativo do impostômetro a postos.

Esse direito, tão eficaz e protetor dos consumidores, não teve a mesma compaixão quando permitiu que a polícia entrasse na favela do Pinheirinho e expulsasse os moradores, crianças e cachorros envolvidos, de seus barracos. Se fossem consumidores, quem sabe algumas vidas fossem poupadas e despachos pudessem ser evitados!

Minha esperança é que a classe média emergente salve o país do “coxinhismo” que virou isso aqui. Talvez os mais humildes que entraram na faculdade recentemente, que sabem, talvez, o que é levar uma vida dura, não esqueçam de onde vieram. Sejam advogados, médicos, engenheiros, jornalistas, políticos que não neguem as raízes. Todos temos o direito de melhorar de vida. Mas não podemos reduzir uma morte a “direito do consumidor ”.

Talvez eu possa conviver na Copa com um país que leve mais de 10 minutos para resolver alguma coisa pelo telefone. Mas não sei se sou capaz de viver em um seja tão seletivo com as leis que serão cumpridas.

Leia o texto do Mauro Cezar Pereira sobre o acontecido.

 
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Publicado por em fevereiro 28, 2013 em Futebol

 

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